Uma mulher chora. Coberta com véu onde está escrito em árabe “Síria”. Grávida, a mulher derrama lágrimas sobre seu ventre onde estão dois bebezinhos lutando. A mãe levanta um punhal com suas mãos ameaçando de morte os frutos do próprio ventre. São 6 anos de guerra na Síria. Esse é um dos inúmeros desenhos enviados de Alepo e de outras cidades na Síria à ACN – Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre.

As cenas desenhadas pelas crianças são sobre bombardeios, morte, choro, casas destruídas, armas, fogo e guerra, e revelam o profundo sofrimento que têm passado nos últimos seis anos. Em um outro desenho, um homem com uma mala está chorando. Sua mulher com lágrimas nos olhos se despede dele. Ela usa um vestido rosa com corações.

Testemunhas da guerra na Síria

“Antes da guerra na Síria, havia um grande reconhecimento do Oriente Médio. A educação e a saúde eram acessíveis. Homs estava se desenvolvendo muito bem. As pessoas ganhavam bem, a comida não era cara e comprar casa e carro era possível para muitos. Eu estava estudando para ser dentista e queria abrir um consultório no meu bairro”, conta Majd J. uma voluntária de um projeto da ACN que ajuda as famílias necessitadas em Homs.

Os olhos dessa jovem brilham enquanto está sentada num abrigo para se proteger do frio porque nas casas não tem aquecimento. Os vidros das janelas estão quebrados e muitas das casas ainda têm buracos de mísseis. Ela conta como uma família perdeu um filho doente por falta de medicamentos e agora tem outro diagnosticado com câncer. Em outra família, um pai acaba de sofrer um ataque cardíaco por conta de todo o estresse e sofrimento dos últimos anos. Com lágrimas nos olhos, ela fixa firmemente o olhar e bem devagar diz: “Eu não entendo nada desse conflito. Nada”.

Há muitos quilômetros de Homs, na região de Zahle, no Líbano, onde muitos sírios têm encontrado refúgio, um pai de família comenta: “Tem sido pior o remédio que a doença”. “Com Assad havia problemas, mas o que aconteceu conosco depois, com o chamado grupo Estado Islâmico, era desumano. Na cidade de Rakka, não podíamos fumar na rua. As meninas de 6 anos tinham que se cobrir para sair de casa. Vivíamos sob terror diariamente”.

Inúmeros prejuízos

Também se vê dor na mensagem pastoral para a Quaresma de Dom Samir Nassar, Arcebispo Maronita de Damasco, que resume os últimos anos de conflito no país: “Em 6 anos, o rosto da Síria mudou completamente. Um vasto deserto de ruínas, edifícios transfortados em pó, casas queimadas, aldeias fantasmas… e mais de 12 milhões de sírios (a metade da população) não têm um teto sobre sua cabeça. Formam o maior número de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial.

Milhões de pessoas abandonaram o país em busca de um lugar mais amigável. Muitos deles são dependentes de esmolas miseráveis nos acampamentos, muitos conseguiram abrigo e muitos outros formam longas filas em frente às embaixadas. Se transformaram em nômades em busca de um país que os acolha. O que poderia a Síria fazer agora para escapar desse tormento?

O país continua sofrendo as consequências do conflito bélico. Ainda que a mídia pareça ter se calado desde que a disputa por Alepo teve um fim, a situação da cidade continua precária. “Em Alepo, há uma grande carência de eletricidade, às vezes só há energia durante uma ou duas horas por dia, outras vezes, nem isso, de modo que temos que recorrer às velas. Há problema com o combustível porque o governo não consegue distribuí-lo”, conta Irmã Annie, uma religiosa síria que com o auxílio da ACN ajuda centenas de famílias em Alepo. “Em Alepo também temos falta de água, às vezes ficamos um mês e meio sem”.

Alguma esperança…

Um ônibus amarelo vai por um caminho de árvores, os passageiros do ônibus vão até o motorista. Na esquina onde os meninos costumam pintar um sol, parece quase imperceptivelmente um projétil de bomba preto em forma de canhão E em meio a tantos desenhos com cenas de guerra, luta, fogo e morte, há também outros. Os que desenham flores saindo de um revólver ou pombas de paz no mapa da Síria, crianças dando as mãos rodeando o mundo, uma criança festejando o diploma em suas mãos… Os outros, dos que não desenharam o que estão vivendo, mas aquilo que desejam e esperam: uma Síria com paz, unidade e a volta para casa.

A ACN continua prestando uma ajuda vital às famílias necessitadas através da Igreja local desde o início da guerra na Síria. Neste mês de março, a Fundação anunciou que destinará auxílio de saúde para 2.200 famílias cristãs e recursos para a manutenção de um programa de distribuição de leite para as crianças; ambos projetos atendem Alepo.

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Um comentário

  1. CLÁUDIO ANANIAS FREYRE. 29 de março de 2017 at 16:46 - Responder

    CLÁUDIO ANANIAS FREYRE, NOSSOS IRMÃOS NA SIRIA ESTÃO SOFRENDO, UMA GUERRA INJUSTA, Á AJUDA A IGREJA QUE SOFRE TEM FEITO O POSSIVEL POR QUE O IMPOSSIVEL A DEUS PERTENCE.

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